

Chega o verão em Cabo Frio, a praia explode com o fluxo de turistas. Isso significa também que aumenta a quantidade de lixo e de coisas descartadas na areia da Praia do Forte. Nessa época desce pra praia uma massa de catadores de latinha, de todas as faixas etárias e vindos de diferentes localidades. Acaba sendo uma atividade fundamental para reforçar o caixa de muitos e a cidade conseguir manter a praia limpa, pelo menos limpa de latinhas (sem precisar de prefeitura…).
Alguns turistas não entendem a função desses catadores e se sentem incomodados com a presença deles. Até entendo, porque o nível de educação dessa galera não é dos melhores, mas é só ficar atento e deixar que façam o recolhimento das latas que o jogo segue tranqüilo. E tem que ficar muito atento, pois no alto verão tem muitos casos de turistas altamente entretidos com a paquera e a conversa e nem percebem o catador de latinha jogar pra dentro do saco as latas da mesa, o celular, a carteira, as chaves do carro, e o que mais tiver na reta. Quando dão falta das coisas, sabe-se lá quem foi que pegou o quê numa praia lotada dessas.
Tinha uma senhorinha muito velhinha, típica velhinha sinistra, aquelas com o rosto todo marcado, enrugado e que a gente não desconfia de quais são as intenções dela. Andava já encurvada, roupa velha muito desgastada, dava uma pena de se ver (exatamente o que ela queria que sentíssemos). Arrastava seu grande saco de latas vazias e fazia seu trabalho sem falar muito. Nunca soube seu nome. Mas todo verão lá estava ela. Ia de barraca em barraca. Parava e apontava pra lata que tivesse na mesa e dizia numa vozinha de gansa esganiçada:
– Latinha! Latinha!
As pessoas acabavam ajudando, entregando as vazias, às vezes antecipando o último gole pra que ela aproveitasse e levasse mais uma.
Mas tinha uma atitude dela que era seu ponto alto. Era quando ela batia o olho numa lata de cerveja em cima de uma mesa, apontava e dizia sua fala clássica:
– Latinha! Latinha!
O turista pegava a lata, balançava pra conferir se ainda tinha bebida, colocava- a de volta na mesa e respondia:
– Está cheia ainda tia.
E ela mais do que prontamente respondia:
–“Tem pobrema não! Tem pobrema não!” Com aquela voz esganiçada.
E na sequência, se o incauto turista tirasse a mão da preciosa cerveja, ela sem dar tempo de reação, pegava a lata e bebia todo o seu conteúdo em uma golada só!
E nem saia correndo não! Debaixo de todo tipo de reclamação, xingamentos, impropérios, na maior cara de pau, ainda terminava de beber olhando pro surrupiado. Jogava a lata vazia no saco que carregava e dava uma grande risada, naquela alegria contagiante sem nenhum dente.
Isso com os olhinhos úmidos e as bochechas avermelhadas de tão bêbada que já estava, e então repetia seu mantra:
–“Tem pobrema não! Tem pobrema não!”