A Luz se foi

Meu pai (geração dos anos20) considerava o acesso a luz elétrica como uma prova de progresso na vida, um símbolo. Sempre disse que passou a infância toda convivendo com a escuridão, e que ele achava quase um milagre ter acesso a luz elétrica à noite.  Quando criança, presenciei o hábito dele acender todas as luzes da casa, sem necessidade imediata de tanto. A justificativa era a mesma – passei muito tempo vivendo no escuro. 

Me lembro de passar férias na pequena cidade onde ele morou na infância, no Sul de Minas. Quando a noite chegava, a luz da cidade ainda era suprida por uma estação à base de gerador diesel, que desligava no meio da noite, por volta das 20 hrs para economizar combustível. Toda a cidade ficava então às escuras. Só tinham poucas luzes, das velas e lampiões das casas aqui e acolá.

Por acaso nesta época a vida seria mais violenta? Existiram mais crimes? Mais violência acontecia nesta escuridão?

As cidades crescem e cada vez mais se apresentam fascinantes e iluminadas quando a noite toma conta.  Nos dias atuais, pelo andar da carruagem, entendemos que a iluminação artificial das cidades é inversamente proporcional à iluminação das consciências e da clareza e reflexão espiritual.

Dizer que estamos cada vez mais no “escuro” é perceber que estamos em uma época onde não vemos mais ética ou verdades nas nossas relações interpessoais. Parece que algo que seria fundamental, foi perdido ou esquecido tanto íntimamente quanto coletivamente.

Na ausência de valores espirituais e morais, todos nós caímos em narrativas manipuladoras, relativismo ético e falsidade institucionalizada.

E o que sobra de verdadeiro para nós? O culto da aparência e poder? Preocupamos em nos tornarmos milionários e o resto que se exploda?

Essa luz artificial tenta imitar a luz real. Mas ela não aquece, não transforma o ser. É uma claridade que mascara a dor, que ofusca com entretenimento e sedução, mas não ilumina as reais injustiças. A verdade não vive de fachadas e sombras. Uma hora ela surgirá com força para queimar e desmascarar todas as farsas.

A Luz nunca desaparece completamente. Ela se esconde quando a alma não tem coragem de encará-la. Ela diminui quando o coração endurece. Então, algumas tradições espirituais sugerem que estamos no final de um grande ciclo – um período de transição. E que todos fazemos parte dele.

A Luz, com letra maiúscula, representa a verdade essencial, o despertar, a consciência superior. E é preciso estar pronto para recebê-la. Converse com sua alma e com seu coração e prepare-se para o que está vindo. 

O tempo de reencontro com verdades  é agora.

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