Astronauta tem espaço na Estação Espacial?

ONIBUS ESPACIAL piloto

Eu era apenas um menino, ainda imerso nas fantasias da infância, quando minha mãe me acordou no meio da noite com uma frase que, sem eu saber, se transformou em algo bem especial: “Vem ver o homem pousar na lua.” Levantei, ainda sonolento, sem compreender completamente a magnitude do que estava prestes a ver. Ao entrar na sala, a televisão exibia o módulo lunar pousado, e logo vi um astronauta descendo uma escadinha, saltitando em direção à superfície lunar. Minha mãe estava ligada na TV, os olhos brilhando com a emoção do momento, e repetia, vez e outra, a frase “O homem chegou na lua…” (não entrarei na polêmica sobre a possibilidade de tudo ter sido simulado em estúdio).

Para mim, aquilo parecia um acontecimento normal, uma extensão do que via nas revistinhas sobre heróis e foguetes e nos desenhos animados que preenchiam minha infância, onde naves e previsões futuristas dos anos 60 nos mostravam como viveríamos dali pra frente. No entanto, aquele momento acabou sendo marcante. A partir dali, um sonho de me tornar um astronauta se instalou. Brincava criando aventuras interplanetárias com minha nave improvisada, feita de cadeiras, lençóis e almofadas. Pedaços de madeira de diferentes tamanhos se transformavam em painéis e controles da minha espaçonave. Tudo o que eu precisava para explorar o cosmos estava ao meu alcance, e era assim que eu construía e vivenciava meu sonho.

Recentemente, a série “Perdidos no Espaço”, relançada pela Netflix, ativou as lembranças daquela época. Recordei da série antiga, em preto e branco, que assistia envolvido intensamente nas peripécias da família Robinson. Na nova versão, todos os membros da família são especialistas em diferentes áreas do conhecimento, uma abordagem que não existia na série original. Essa mudança no contexto das histórias é significativa; uma expedição ao desconhecido, seja em uma nave, barco ou qualquer outro veículo, exige uma gama de habilidades para lidar com reparos, consertos e improvisações, além dos perrengues que inevitavelmente irão surgir.

Nos anos 60 e 70, o foco estava em como os astronautas pilotavam foguetes e se comunicavam com o controle da Terra. Hoje, os computadores realizam cálculos complexos, traçam rotas e fazem correções de vôo, aliviando os astronautas dessa carga. Mas como seriam as especialidades e as condições físicas ideais hoje para esses exploradores do espaço?

É impressionante pensar que, durante a decolagem, quando os motores estão no máximo de empuxo para vencer a inércia, os batimentos cardíacos podem atingir picos de 210 bpm .  A preparação física e psicológica necessária para gerenciar essa pressão e a emoção avassaladora da decolagem, somadas ao medo da coisa toda simplesmente explodir, é um dos grandes desafios que enfrentam.

E ao longo da missão, quando precisarem de alguém especialista pra fazer um reparo na parte hidráulica ou elétrica, vão ter que se virar com um da tripulação para resolver o problema.  Além disso, o espaço confinado da nave exige um treinamento específico para que os astronautas se acostumem a viver em um ambiente tão apertado e com o mínimo de recursos disponíveis. Tudo é limitado, e a adaptação a essa realidade é fundamental. 

 

Assista a este vídeo e reflita se você conseguiria viver meses nesse ambiente .

Há pouco tempo, recebi um convite para fazer parte da primeira expedição a Marte. Sei que só fui escolhido por ter me formado em “Resolução de pepinos com gambiarra”, e ter doutorado em “Marido de aluguel – Uma abordagem latina contemporânea” .  No entanto, recusei. Primeiro, porque me informaram que essa primeira leva não poderia retornar à Terra. Essa perspectiva não me agradou nem um pouco. Segundo, porque a tripulação seria composta principalmente de “cotas de minorias”.  Que tipo de recompensa poderia me entusiasmar a ir para Marte e conviver pelo resto da vida com 59 gêneros diferentes e conflitantes? Quais seriam as ferramentas emocionais necessárias para gerar empatias, companheirismo, espírito coletivo e ainda conseguir sobreviver?

Sei que ainda tenho que melhorar muito minha conduta e minha convivência aqui na terra com aqueles que comigo interagem. Essa é a minha atual espaçonave, e esse é meu planeta semi-hostil. Por mais que a idade tenha ficado mais dilatada, me sinto como estudante no ginasial da vida, fazendo várias horas extras depois das aulas e enfrentando recuperação direto em cada semestre.

Em “fase de treinamento” como dizem.

NAVE X DRAGON Luiz astronauta

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