Violeiro na Praia

Minha vida é andar por esse  país, Pra ver se um dia eu descanso feliz  

Guardando as recordações. Das terras por onde andei ….

Sempre que vem a figura de um violeiro, me lembro dessa musica do Luiz Gonzaga, grande xará meu. É a imagem de um musico que ralou muito, criou música inesquecíveis, fez show em todo tipo de ambiente, e lidou com todo tipo de público. Têm minha admiração.

Na praia do Forte, no verão aparecem uns violeiros. Eles se apresentam numa configuração nordestina, por conta do já conhecido chapéu de cangaceiro, a roupa brega e descombinada, camisa listada indo prum lado, calça marrom indo pra outro, todas bem usadas e gastas. Uma imagem perfeita de filme sobre o nordeste, aquela carência de recursos, pobre e atrasado.        E sempre apresentando um dialeto inconfundível, usando palavras e termos próprios que só da gente tentar decifrar, aí lascou a coisa…   Sempre usam a estrutura de cordel, que eles improvisam na hora, que vai zoando todo mundo que está na mesa. As vezes eles acertam na veia e novamente, dependendo da graduação alcoólica dos participantes da mesa, acabam produzindo muitas risadas e vários trocados.

Outras vezes eles erram na mão

Tinha um que se apresentava com os trajes típicos, um personagem que de longe parecia um violeiro nordestino bem convincente. Chegou numa mesa com várias pessoas de variadas idades e começou sua performance com cantoria  e rimas típicas de cordel, porém tinha uma voz que incomodava além de segurar um violão com as cordas velhas e desafinadas… Totalmente desafinas! Nenhuma batia com a outra. Só faziam um barulho qualquer fingindo que eram acordes.  E eu vendo a cena e pensando como que aquele “músico” tinha tamanha cara de pau de se achar um violeiro e buscar receber algum trocado por conta disso. Nada ali funcionava. Nem se todos da mesa estivessem bêbados (o que achava que era o desejo dele).

Então um senhor mais velho se levantou da mesa, deu uma volta e foi até ele. Pois a mão no ombro do cantor e com tranquilidade  disse num tom mais grave:

– Companheiro, faz um favor pra gente? Deixa a gente aproveitar a praia, deixa a gente continuar conversando ! Toca em outra mesa por gentileza.

E pegou uma nota de cinqüenta reais e pôs na mão dele.

– Estamos combinados? Boa sorte então, segue sua caminhada.

E o violeiro olhou aquela nota, dobrou bem dobradinha, guardou no bolso, olhou pro turista, deu uma risadinha e saiu sem dizer mais nenhuma palavra.

E eu vendo essa cena, fiquei pensado:

 “Esse cara descobriu um negócio arretado de bão.” 

Não tem que aprender a tocar, não tem que decorar nenhuma letra de musica, não tem que saber cantar, não tem produzir nada e em menos de 1 minuto já consegue receber uma grana dos “clientes”.    Quanto que esse cara deve ganhar por dia numa praia lotada dessas???   Este resolveu uma equação que todos os vendedores aqui tentam solucionar de uma forma ou de outra.

Esse também têm minha admiração.

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